Minhas queridas manas e mamas de Natal, nossa cidade ganhou uma obstetra que pratica medicina baseada em evidências. Que presente! Conheci a Doutora Karina ontem e logo fiz o convite para esta entrevista. A foto da capa é o ensaio que ela fez com a fotógrafa Priscilla Amorim. Sim, Antônio vem aí! Além de falar sobre sua profissão, a Dra. Karina contou como é vivenciar sua própria gestação.
Blog Palavra de Mãe – Como foi a escolha pela medicina (obstetrícia)?
Dra. Karina Cavalcanti – Sou pernambucana e recifense, porém fui criada no interior do estado de PE, na cidade de Petrolina. Quis ser médica desde os sete anos de idade, e para perseguir meu sonho aos 15 voltei para Recife, onde estudava e morava em casa de estudantes. Perdi minha mãe aos quatro anos por um câncer hoje curável: o de mama. Minha mãe era médica veterinária e nos poucos anos que convivemos a acompanhei nas madrugadas para fazer alguns partos… Acredito que as duas experiências me fizeram aficionada pela área encantadora e sublime que é a da saúde da mulher!
Blog – O que te fez seguir para a humanização do parto?
Dra. – Comecei a acompanhar partos há seis anos, ainda na faculdade de medicina (UFPE) fiz estágios como monitora de obstetrícia do Hospital das Clínicas da UFPE e também no famoso IMIP. Vi MUITA coisa acontecer… Mas pessoas-chave, especialmente do HC-UFPE, me levaram a acreditar que podemos sempre realizar uma medicina de excelência onde quer que estejamos: principalmente, se trabalhamos com Amor e Dedicação.
Na parte científica , foi no HC-UFPE onde aprendi a praticar medicina baseada em evidências, que nada mais é do que estudos multicêntricos (realizados em vários locais e com grande número de pessoas) que norteiam as “verdades” da prática médica (ou aquilo que é o melhor para a maioria das pessoas em termos de tratamento ou procedimento médico).
Na obstetrícia (área que trata de gestação, parto e puerpério) as “verdades” mudaram muito nas últimas décadas, e grandes foram os avanços! O grande desafio está sendo incorporar essas novas “verdades” na prática de muitos obstetras com longa experiência, por quem tenho profundo respeito e já me ensinaram muito, que ainda trabalham no antigo modelo. Há também diversos mitos na mente das mulheres, que só após alguns anos e com bastante esclarecimento à população poderemos derrubar…
Trabalho em uma área que não escolhi: foi ela que me escolheu! Por isso mesmo sendo ainda especialidade tão desvalorizada, pratico com muita alegria (mesmo que seja as 4h da madrugada)! Fazer um parto é quase como uma droga, para quem gosta mesmo é algo viciante que te faz entrar em abstinência em pouquíssimo tempo!
Blog – Sobre a vinda para Natal, quais suas expectativas?
Dra. – Vim para Natal atraída pela melhor qualidade de vida e pelo cunhado também médico que já morava aqui, casado com uma médica potiguar. Meu marido é anestesista, também pernambucano, e estamos formando uma equipe que trabalha com parto humanizado sem dor (hospitalar: com analgesia de parto, para as que assim optarem). Muitas mulheres nunca ouviram falar que podem ter um parto normal com pouca dor, algo que é rotina em países como EUA e Canadá. Minha maior expectativa é poder trabalhar plenamente na área que amo e tanto me dedico podendo oferecer o que há de melhor às mulheres natalenses, de acordo com a escolha de cada uma. Além de ginecologista e obstetra, trabalho também na área de cirurgia ginecológica por vídeo e sou terapeuta sexual. Ainda estudando muito e sem pretensão de me aposentar como estudante até uns 80 anos.
Blog – Muitas mulheres adiaram o sonho de ter filho com medo do vírus da zika. Já é possível engravidar sem tanta preocupação? O que é mais importante em um pré-natal para um parto bem sucedido?
Dra. – O pré-natal começa ANTES de engravidar, e hoje essa avaliação pré concepcional está ainda mais importante. Junto com o diagnóstico e controle de doenças já existentes (muitas são descobertas neste momento) e que podem piorar na gravidez, reposição de vitaminas/minerais essenciais para o desenvolvimento do embrião e até mesmo orientações como o uso de repelentes! Preocupação é algo que devemos converter em proação, procurar se cuidar sempre e confiar no seu médico-assistente. O zika parece ter dado uma trégua mas não devemos o esquecer jamais, pois o vetor (mosquito) ainda não foi adequadamente controlado. Hoje sabemos que mais de 80% das complicações do parto poderiam ter sido detectadas e prevenidas pelo pré-natal adequado… Então, ele é essencial para o nascimento de uma mãe e bebê saudáveis.
Blog – Você está grávida, à espera de Antônio, como está sendo gestar…
Dra. – Antônio é um bebê muito esperado, já amado antes de ser. Na verdade, sou da linha grávida/mãe consciente e sei que não é um romance de novela. Estou vivendo cada alegria, cada alívio e cada queixa das minhas pacientes e sei que são bastante limitadoras. Nunca menosprezei nenhum sintoma das pacientes, quem faz pré-natal comigo sabe. Apesar de ser sublime e maravilhoso, gravidez não combina com a vida agitada e sem cuidados da mulher moderna (como era a minha antes de planejar a gravidez). Então, estou tentando seguir minhas próprias recomendações, e não é que dá certo??!! Torcendo agora e ansiosa pelo grande momento: meu parto! Será aqui em Natal, acompanhado por dois colegas que são da linha humanista como eu, respeitando os meus desejos, mas acima de tudo preservando e cuidando da nossa saúde.
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